Dono da maior rede de postos do país e de duas distribuidoras de combustíveis, o grupo gaúcho SIM quer se consolidar entre os grandes nas áreas em que atua - o que inclui ainda lojas de conveniência, lubrificantes, TRR (transportador-revendedor-retalhista) e, logo mais, comércio eletrônico e serviços de pagamento - nos três Estados do Sul antes de alçar voos mais distantes.
A estratégia é crescer em espiral, expandindo progressivamente seu raio de atuação, e deixar com a SIM Distribuidora, ao menos por enquanto, a missão de conquistar as divisas acima do Paraná. A empresa está entre as dez maiores distribuidoras de combustíveis no Brasil, já chegou a São Paulo e prepara o terreno para entrar no Centro-Oeste.
Junto com o crescimento dos negócios, o grupo tem investido em diversificação. Nesta frente, a mais recente aposta é a A27, uma instituição de pagamentos que aguarda o aval do Banco Central para operar. De partida, a A27 nasce com movimentação potencial de pelo menos R$ 15 bilhões ao ano, já que vai intermediar as transações financeiras do grupo.
Outra novidade a caminho, o SIM Digital será a plataforma de comércio eletrônico da SIM. Inicialmente com foco em operações B2B e produtos automotivos, deverá atender também ao consumidor final mais à frente. O lançamento está previsto para março.
A rede de postos SIM faz parte da primeira grande rota privada de carregamento de veículos elétricos do país.
Fundado em 1985 pelos irmãos Deunir Luiz Argenta e Itacir Neco Argenta - que segue à frente dos negócios, fazendo jus ao ditado de que é o olho do dono que engorda o gado -, o grupo deve encerrar 2022 com R$ 12,5 bilhões de receita líquida e movimentação de 2,5 bilhões de litros de combustíveis.
A ambição, diz Neco, é estar entre os cinco maiores em faturamento no Rio Grande do Sul em 2025, com pelo menos R$ 20 bilhões. Mantido o ritmo de crescimento visto nos últimos anos, acelerado também pela compra de ativos, a meta é factível.
Há projetos de expansão em todas as áreas, incluindo a vinícola Luiz Argenta (veja texto abaixo), e de potenciais aquisições e novos negócios que complementem o portfólio atual estão no radar. “Vamos continuar olhando aquisições. Temos dois projetos engatados”, conta.
Não há intenção de realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) ou de atrair novos sócios ao grupo, que tem sede em Flores da Cunha, para financiar futuras operações, garantem os irmãos. A ideia é que a SIM siga parceira das instituições financeiras que já a financiam e continue reinvestindo praticamente todo resultado que gera.
Um posto da rede vende hoje mais de 400 mil litros por mês, comparável a 140 mil litros mensais há 4 anos.
Também por isso, o grupo investiu para aprimorar a governança. Com 58 anos celebrados em 27 de julho, Neco tem a palavra final nas decisões e conta com o apoio do irmão, que se dedica aos negócios da vinícola. Mas um conselho consultivo, com nomes como os de César Suaki (ex-grupo Martins) e Adriano Dalbem (que teve passagens por Shell e Brenco, Shell e Brenco, entre outras empresas), participa das discussões estratégicas. Além disso, há três anos o balanço financeiro da SIM é auditado pela PwC.
Self-made man”, Neco começou a trabalhar aos 12 anos e chamou a atenção pelo tino comercial. Passou pela Móveis Colombo e pela Fábrica de Móveis Florense, ambas de Flores da Cunha, antes de se juntar a Deunir na fundação da Ditrento, nome original do grupo SIM.
Ele conta que, 27 dias após a morte do pai, Luiz Argenta, em setembro de 1985, nascia a empresa que deu origem ao grupo. “Não importa o que você vai vender. O foco é a relação com o cliente. Esse é o grande desafio”, afirma. Hoje, somente no varejo, a SIM emite 33 milhões de cupons fiscais por ano.
O crescimento do grupo também é creditado a algumas peculiaridades do empresário ao fazer negócios: o número 27 é emblemático - basta ver quantas vezes aparece ao longo de sua história e da história da SIM - e nunca há abertura de novos postos às sextas-feiras, entre outros hábitos ou crenças.
Somente em 2022, a SIM fechou três compras relevantes, da Querodiesel, da Destra e da Charrua. Com a Querodiesel, fez sua estreia no mercado de TRR, apta a fornecer diesel e lubrificantes diretamente a clientes de pequeno porte, entre os quais transportadores e empresa do agronegócio. Além disso, a SIM assumiu a exclusividade na distribuição de produtos da Petronas no Rio Grande do Sul e uma fábrica de Arla 32, usado para reduzir as emissões de veículos de grande porte.
Quarto maior TRR do país após a compra da Querodiesel, movimentará 30 milhões de litros por mês em 2023, volume que pode levar o grupo à liderança desse mercado. Considerando-se todas as empresas SIM, a movimentação de combustíveis chega a 227 milhões de litros ao mês, colocando-as, virtualmente, entre as quatro maiores distribuidoras do país.
A SIM Distribuidora, por sua vez, tem dez bases de operação e frota com 250 caminhões. Já o negócio de lubrificantes, que deve faturar R$ 200 milhões em 2022, pode alcançar a marca de R$ 1 bilhão em dois anos.
Apesar do ganho de musculatura recente, diz Neco, o grupo tem procurado ir além dos combustíveis. Hoje, um terço das margens absolutas da operação de varejo passa por não combustíveis e essa fatia continuará crescendo. Embora eletrificação e transição energética sejam realidade, a avaliação é que o negócio de combustíveis, inclusive fósseis, não está com os dias contados no país.
O esforço tem sido, segundo ele, por acompanhar as novidades na área de energia. Junto com Zletric, Nissan e Movida, por exemplo, a rede de postos SIM faz parte da primeira grande rota privada de carregamento de veículos elétricos do país, com dez pontos no Rio Grande do Sul.
Hoje, a distribuidora de combustíveis representa cerca de 40% do faturamento do grupo. Mas há consciência de que há mudanças em curso na matriz energética.
“Ter uma comercializadora de energia, no futuro, seria um caminho natural”, diz o empresário.
O grupo, que sob a marca SIM “nasceu” no varejo de combustíveis, tem história mais antiga. Quando se chamava Ditrento, entre a década de 80 e anos 2000, teve como atividade econômica original a distribuição de produtos para a indústria vinícola, que em Flores da Cunha deu os primeiros passos do país rumo aos vinhos finos.
Daí para os combustíveis foi uma questão de necessidade. Para garantir o abastecimento da frota própria de caminhões a qualquer momento nos fins de semana, no início dos anos 90 foi inaugurado o Posto Matriz, de bandeira BR, em Flores da Cunha. O grupo chegou a ter sete diferentes negócios, incluindo uma fábrica de balas.
Em 2008, deu início a uma ampla reestruturação e venda de ativos que culminaram na troca de nome, para SIM, em 2012, há exatos dez anos.
Hoje, a rede SIM conta com 160 postos sob as bandeiras SIM, Shell, BR (Vibra), Ipiranga e Charrua e é hoje a maior revenda Vibra do país, com 79 postos. A meta da rede é chegar a 200 unidades de diferentes marcas em 2025 e buscar a mesma participação de mercado consolidada, considerando-se diesel e gasolina de 10% no Rio Grande do Sul, também Santa Catarina e no Paraná, onde a participação da SIM é menor. Em 2021, o faturamento da operação chegou a R$ 3,3 bilhões.
Além da estrutura própria, a recém-comprada Charrua tem 270 postos franqueados e o plano é chegar a 500 unidades no futuro. Em média, conta o empresário, um posto da rede vende hoje mais de 400 mil litros por mês, comparável a 140 mil litros mensais há quatro anos. Na Charrua, a média é inferior porque seus postos estão em localidades menores.
A rede foi a primeira na Serra Gaúcha a ter loja de conveniência dentro do posto. Agora, quer levar também pontos de venda da marca para fora - há alguns anos, o grupo chegou a avaliar o varejo farmacêutico e desistiu e, mais recentemente, olhou o formato de lojas de proximidade, mas preferiu seguir em conveniência. O projeto piloto deve começar a funcionar até o 2º semestre. Atualmente, são 160 lojas SIM, que devem faturar R$ 250 milhões neste ano.
Com cerca de 4 mil funcionários e mais de três quartos desse contingente no varejo, a SIM tem apostado na formação de profissionais dentro de casa. Atualmente, dos 160 gerentes de postos da rede, 60 vieram de sua escola de gerentes
O grupo apostou ainda no formato de “ônibus escola” para percorrer todas as suas operações, do Chuí (RS) a Curitiba (PR), passando pelo extremo de Uruguaiana (RS), e treinar seus profissionais. Um dos grandes ensinamentos, dizem os responsáveis por diferentes áreas do grupo, é que o “jeito SIM” de atendimento ao cliente e banheiro impecável nos postos e lojas também são bandeiras.